EU NÃO
DISSE ISTO:
O
TRUMP SERÁ ELEITO PRESIDENTE AMERICANO.
27 DE
JULHO DE 2016...
Amigo:
Sinto muito por ser o
portador de más notícias, mas fui direto com vocês no ano passado quando disse
que Donald Trump seria o candidato republicano à Presidência. E agora trago
notícias ainda mais terríveis e deprimentes: Donald J. Trump vai ganhar a eleição
de novembro.
Esse palhaço desprezível,
ignorante e perigoso, esse sociopata será o próximo presidente dos Estados
Unidos. Presidente Trump. Pode começar a treinar, porque você vai dizer essas
palavras pelos próximos quatro anos: "Presidente Trump". Nunca na
minha vida quis estar tão errado como agora.
Vejo o que você está
fazendo agora. Está sacudindo a cabeça loucamente - "Não, Mike, isso não
vai acontecer!". Infelizmente, você está vivendo numa bolha anexa a uma
câmara de eco, onde você e seus amigos vivem convencidos de que o povo americano
não vai eleger um idiota como presidente.
Você alterna entre o
choque e a risada por causa dos últimos comentários malucos que ele fez, ou
então por causa do narcisismo vergonhoso de Trump em relação a tudo, afinal de
contas tudo tem a ver com ele. E aí você ouve Hillary e enxerga a primeira
mulher presidente, respeitada pelo mundo, inteligente, preocupada com as
crianças, alguém que vai continuar o legado de Obama porque isso é obviamente o
que o povo americano quer! Sim! Outros quatro anos disso!
Você tem de sair dessa
bolha imediatamente. Precisa parar de viver em negação e encarar a verdade que
sabe que é muito, muito real. Tentar se acalmar com fatos - "77% do
eleitorado é composto por mulheres, negros, jovens adultos de menos de 35 anos;
Trump não tem como ganhar a maioria dos votos de nenhum desses grupos!" -
ou com a lógica - "as pessoas não vão votar num bufão, ou contra seus
próprios interesses!" - é a maneira que seu cérebro encontra para te
proteger do trauma.
Como quando você ouve um estampido na rua e pensa "foi
um pneu que estourou" ou "quem está soltando fogos?", porque não
quer pensar que acabou de ouvir alguém sendo baleado. É a mesma razão pela qual
todas as primeiras notícias e relatos de testemunhas sobre o 11 de setembro diziam
que "um avião pequeno se chocou acidentalmente contra o World Trade
Center".
Queremos - precisamos -
esperar pelo melhor porque, honestamente, a vida já é uma merda, e é difícil
sobreviver mês a mês. Não temos como aguentar mais notícias ruins. Então nosso
estado mental entra no automático quando alguma coisa assustadora está
realmente acontecendo.
As primeiras pessoas atingidas pelo caminhão em Nice
passaram seus últimos momentos na Terra acenando para o motorista; elas
acreditavam que ele tinha simplesmente perdido o controle e subido na calçada.
"Cuidado!", elas gritaram. "Tem gente na calçada!"
Bem, pessoal, não se trata
de um acidente. Está acontecendo. E, se você acredita que Hillary Clinton vai
derrotar Trump com fatos e inteligência e lógica, obviamente passou batido pelo
último ano e pelas primárias, em que 16 candidatos republicanos tentaram de
tudo, mas nada foi capaz de parar essa força irresistível. Hoje, do jeito que
as coisas estão, acho que vai acontecer - e, para lidar com isso, primeiro
preciso que você aceite a realidade e depois talvez, só talvez, a gente
encontre uma saída para essa encrenca.
Não me entenda mal. Tenho
grandes esperanças em relação ao meu país. As coisas estão melhores. A esquerda
ganhou a guerra cultural. Gays e lésbicas podem se casar. A maioria dos
americanos têm uma posição liberal em relação a quase todas as questões:
salários iguais para as mulheres; aborto legalizado; leis mais duras em defesa
do meio ambiente; mais controle de armas; legalização da maconha.
Uma enorme
mudança aconteceu - basta perguntar ao socialista que ganhou as primárias em 22
Estados. E não tenho dúvidas de que, se as pessoas pudessem votar do sofá de
casa pelo Xbox ou Playstation, Hillary ganharia de lavada.
Mas as coisas não
funcionam assim nos Estados Unidos. As pessoas têm de sair de casa e pegar fila
para votar. E, se moram em bairros pobres, negros ou hispânicos, não só
enfrentam filas maiores como têm de superar todo tipo de obstáculo para votar.
Então, na maioria das eleições é difícil conseguir que pelo menos metade dos
eleitores compareça às urnas.
E aí está o problema de
novembro -- quem vai ter os eleitores mais motivados e mais inspirados? Você
sabe a resposta.
Quem é o candidato com os apoiadores mais ferozes?
Cujos fãs
vão estar na rua das 5 horas até a hora do fechamento da última urna, garantindo que
todo Tom, Dick e Harry (e Bob e Joe e Billy Joe e Billy Bob Joe) tenham votado?
Isso mesmo. Este é o perigo que estamos correndo. E não se iluda. Não importa
quantos anúncios de TV Hillary fizer, quão melhor ela se portar nos debates,
quantos votos os libertários roubarem de Trump -- nada disso vai ser capaz de
detê-lo.
Você precisa parar de
viver em negação e encarar a verdade que sabe que é muito, muito real.
Eis as 5 razões pelas
quais Trump vai ganhar:
1. A matemática do
Meio-Oeste, ou bem-vindo ao Brexit do Cinturão Industrial.
Acredito que Trump
vá concentrar muito da sua atenção em quatro Estados tradicionalmente
democratas do cinturão industrial dos Grandes Lagos -- Michigan, Ohio,
Pensilvânia e Wisconsin.
Estes quatro Estados elegeram governadores republicano
desde 2010 (só a Pensilvânia finalmente elegeu um democrata). Nas primárias de
Michigan, em março, mais eleitores votaram nos republicanos (1,32 milhão) que
nos democratas (1,19 milhão). Trump está na frente de Hillary nas últimas
pesquisas na Pensilvânia e empatado com ela em Ohio. Empatado? Como a disputa
pode estar tão apertada depois de tudo o que Trump tem dito?
Bem, talvez porque
ele tenha dito (corretamente) que o apoio de Clinton à Nafta (acordo de livre
comércio da América do Norte) ajudou a destruir os Estados industriais do
Meio-Oeste.
Trump vai bater em
Clinton neste tema, e também no tema da Parceria Trans-Pacífica (TPP) e outras
políticas comerciais que ferraram as populações desses quatro Estados. Quando
Trump falou à sombra de uma fábrica da Ford durante as primárias de Michigan,
ele ameaçou a empresa: se eles realmente fossem adiante com o plano de fechar
aquela fábrica e mandá-la para o México, ele imporia uma tarifa de 35% sobre
qualquer carro produzido no México e exportado de volta para os Estados Unidos.
Foi música para os ouvidos dos trabalhadores de Michigan. Quando ele ameaçou a
Apple da mesma maneira, dizendo que vai forçar a empresa a parar de produzir
seus iPhones na China e trazer as fábricas para solo americano, os corações se
derreteram, e Trump saiu de cena com uma vitória que deveria ser de John
Kasich, governador do vizinho Estado de Ohio.
De Green Bay a
Pittsburgh, isso, meus amigos, é o meio da Inglaterra: quebrado, deprimido,
lutando. As chaminés são a carcaça do que costumávamos chamar de classe média.
Trabalhadores nervosos e amargurados, que ouviram mentiras de Ronald Reagan e
foram abandonados pelos democratas. Estes últimos ainda tentam falar as coisas certas,
mas na verdade estão mais interessados em ouvir os lobistas do Goldman Sachs,
que na saída vão deixar um cheque de gordas contribuições.
O que aconteceu no
Reino Unido com a Brexit vai acontecer aqui. Elmer Gantry é o nosso Boris
Johnson e diz à merda que for necessária para convencer a massa de que essa é a
sua chance! Vamos mostrar para TODOS eles, todos os que destruíram o Sonho
Americano!
E agora o Forasteiro, Donald Trump, chegou para dar um jeito em
tudo!
Você não precisa concordar com ele! Você nem precisa gostar dele! Ele é
seu coquetel molotov pessoal para ser arremessado na cara dos filhos da mãe que
fizeram isso com você! DÊ O RECADO! TRUMP É SEU MENSAGEIRO!
E aqui entra a
matemática.
Em 2012, Mitt Romney perdeu por 64 votos no colégio eleitoral. Some
os votos de Michigan, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin. A conta dá 64. Tudo o que
Trump precisa para vencer é levar os Estados tradicionalmente republicanos de
Idaho à Geórgia (Estados que jamais votarão em Hillary Clinton) e esses quatro
do cinturão industrial. Ele não precisa do Colorado ou da Virgínia. Só de
Michigan, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin. E isso será suficiente. É isso o que
vai acontecer em novembro.
2. O último bastião
do homem branco e nervoso. Nosso domínio masculino de 240 anos sobre os Estados
Unidos está chegando ao fim. Uma mulher está prestes a assumir o poder! Como
isso aconteceu?! Diante do nosso nariz! Havia sinais, mas os ignoramos. Nixon, o
traidor do gênero, nos impôs a regra que disse que as meninas da escola têm de
ter chances igual de jogar esportes. Depois deixaram que elas pilotassem aviões
de carreira.
Quando mal percebemos, Beyoncé invadiu o campo no Super Bowl deste
ano (nosso jogo!) com um exército de Mulheres Negras, punhos erguidos,
declarando que nossa dominação estava terminada. Meu Deus!
Este é apenas um
olhar de relance no que se passa na cabeça do Homem Branco Ameaçado. A sensação
é que o poder se lhes escapou por entre as mãos, que sua maneira de fazer as
coisas ficou antiquada. Esse monstro, a "feminazi", que, como diz
Trump, "sangra pelos olhos ou por onde quer que sangre", nos
conquistou -- e agora, depois de aturar oito anos de um negro nos dizendo o que
fazer, temos de ficar quietos e aguentar oito anos ouvindo ordens de uma
mulher? Depois disso serão oito anos dos gays na Casa Branca! E aí os
transgêneros! Você já entendeu onde isso vai parar. Os animais vão ter direitos
humanos e uma porra de um hamster vai governar o país. Isso tem de acabar!
3. O problema
Hillary.
Podemos falar sinceramente, só entre nós? E, antes disso, permita-me
dizer que gosto de Hillary -- muito -- e acho que ela tem uma reputação que não
merece. Mas ela apoiou a guerra no Iraque, e depois disso prometi que jamais
votaria nela de novo. Mantive essa promessa até hoje. Para evitar que um
protofascista se torne nosso comandante-chefe, vou quebrar essa promessa.
Infelizmente acredito que Hillary vá dar um jeito de nos enfiar em algum tipo
de ação militar. Ela está à direita de Obama. Mas o dedo do psicopata Trump vai
estar No Botão, e isso é o suficiente. Voto em Hillary.
Vamos admitir:
nosso maior problema aqui não é Trump -- é Hillary. Ela é extremamente
impopular -- quase 70% dos eleitores a consideram pouco confiável e desonesta.
Ela representa a política de antigamente: faz de tudo para ser eleita. É por
isso que ela é contra o casamento gay num momento e no outro está celebrando o
matrimônio de dois homens.
As mulheres jovens são suas maiores detratoras, o
que deve magoar, considerando os sacrifícios e batalhas que Hillary e outras
mulheres da sua geração tiveram de enfrentar para que a geração atual não
tivesse de ouvir as Barbara Bushes do mundo dizendo que elas têm de ficar
quietas e bater um bolo.
Mas a garotada
também não gosta dela, e não passa um dia sem que um millennial me diga que não
vai votar em Hillary. Nenhum democrata, e seguramente nenhum independente, vai
acordar em 8 de novembro para votar em Hillary com a mesma empolgação que votou
em Obama ou em Bernie Sanders. Não vejo o mesmo entusiasmo. Como essa eleição
vai ser decidida por um único fator -- quem vai conseguir arrastar mais gente
pra fora de casa e para as seções eleitorais --, Trump é o favorito.
4. O eleitor
deprimido de Sanders.
Pare de reclamar que os apoiadores de Bernie não vão
votar em Clinton -- eles vão votar! As pesquisas já mostram que um número maior
de eleitores de Sanders vai votar em Hillary este ano do que o de eleitores de
Hillary que votaram em Obama em 2008. Não é esse o problema. O alarme de
incêndio que deveria estar soando é que, embora o apoiador médio de Sanders vá
se arrastar até as urnas para votar em Hillary, ele vai ser o chamado
"eleitor deprimido" -- ou seja, não vai trazer consigo outras cinco
pessoas. Ele não vai trabalhar dez horas como voluntário no último mês da
campanha.
Ele nunca vai se
empolgar falando de Hillary. O eleitor deprimido. Porque, quando você é jovem,
não tem tolerância nenhuma para enganadores ou embusteiros. Voltar à era Clinton/Bush
para eles é como ter de pagar para ouvir música ou usar o MySpace ou andar por
aí com um celular gigante.
Eles não vão votar em Trump; alguns vão votar em
candidatos independentes, mas muitos vão ficar em casa. Hillary Clinton vai ter
de fazer alguma coisa para que eles tenham uma razão para apoiá-la -- e
escolher um velho branco sem sal como vice não é o tipo de decisão arriscada
que diz para os millennials que seu voto é importante. Duas mulheres na chapa
-- isso era uma ideia boa. Mas aí Hillary ficou com medo e decidiu optar pelo
caminho mais seguro. É só mais um exemplo de como ela está matando o voto
jovem.
5. O efeito Jesse
Ventura.
Finalmente, não desconte a capacidade do eleitorado de ser brincalhão
nem subestime quantos milhões de pessoas se consideram anarquistas enrustidos.
A cabine de votação é um dos últimos lugares remanescentes em que não há
câmeras de segurança, escutas, mulheres, maridos, crianças, chefes, polícia.
Não tem nem sequer limite de tempo. Você pode demorar o tempo que for para
votar, e ninguém pode fazer nada. Você pode votar no partido, ou pode escrever
Mickey Mouse e Pato Donald.
Não há regras, E, por isso, a raiva que muitos
sentem pelo sistema político falido vai se traduzir em votos em Trump. Não
porque as pessoas concordem necessariamente com ele, não porque gostem de sua
intolerância ou de seu ego, mas só porque podem.
Só porque um voto
em Trump significa chutar o pau da barraca. Assim como você se pergunta por um
instante como seria se jogar das cataratas do Niágara, muita gente vai gostar
de estar no papel de titereiro, votando em Trump só para ver o que acontece.
Lembra nos anos 1990, quando a população de Minnesota elegeu um lutador de luta
livre para governador? Elas não o fizeram porque são burras ou porque Jesse
Ventura é um estadista ou intelectual político. Elas o fizeram porque podiam.
Minnesota é um dos Estados mais inteligentes do país. Também está cheio de
gente com um senso de humor distorcido -- e votar em Ventura foi sua versão de
uma pegadinha no sistema político. Vai acontecer o mesmo com Trump.
Voltando para o
hotel depois de participar de um programa da HBO sobre a convenção republicana,
um homem me parou. "Mike", ele disse, "temos de votar em Trump.
TEMOS que dar uma chacoalhada às coisas". Foi isso. Era o suficiente para
ele. "Dar uma chacoalhada nas coisas".
O presidente Trump certamente
faria isso, e uma boa parcela do eleitorado gostaria de sentar na plateia e
assistir o show.
(Na semana que vem
vou postar minhas ideias sobre os calcanhares de Aquiles de Trump e como acho
que ele pode ser derrotado).
Que escreveu isto foi esse cara...
MICHAEL MORE |
Michael Moore.
Nenhum comentário:
Postar um comentário